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Bolsonaro, o desprezo à vida humana e a tentativa de golpe de Estado.

  • Foto do escritor: Rogério Baptistini Mendes
    Rogério Baptistini Mendes
  • 23 de mar
  • 3 min de leitura

O governo da dupla Bolsonaro e Paulo Guedes foi francamente hostil aos "de baixo". Os trabalhadores e as populações nativas padeceram sob o desmonte das estruturas de proteção e fiscalização. Durante a pandemia da covid-19, enquanto as mortes se avolumavam, o ambiente era destruído pelo garimpo ilegal e a fome prevalecia nas cidades.

A possível prisão de Bolsonaro significa o fim das trevas?
A possível prisão de Bolsonaro significa o fim das trevas?

Quando governou, Bolsonaro perseguiu a destruição da sociedade política e de sua finalidade, entendida como o bem comum dos seus membros. A intenção, manifesta logo no início do mandato, durante jantar com líderes conservadores na embaixada brasileira em Washington, visava derrotar um comunismo imaginário[1]. Para além disso, a elite que patrocinou a vitória eleitoral do facinoroso buscava algo mais lucrativo: transformar o país em um laboratório de experiências ultraliberais, com passe livre para a acumulação ao custo do sacrifício do povo e do ambiente.


Nunca um governo foi tão explícito e bem-sucedido em sua intenção de sabotar os vínculos imaginários que unem as pessoas e conformam a comunidade de destino que é a nação. É impossível esquecer que em junho de 2019 um grupo se reuniu no prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para traçar com o “seu” presidente um plano intitulado “Conservador nos costumes, liberal nos negócios”, ocasião em que um dos valentes externou a mentalidade tosca dos endinheirados: “O maior problema do Brasil é a educação que tem um viés comunista”[2].


Estado e nação, paradoxalmente, apesar de representados no mote do bolsonarismo, rarefeitos e entremeados com ideias de família, pátria e Deus, ainda hoje servem para iludir as massas e ocultar um verdadeiro desmonte das estruturas jurídicas e políticas do Estado saído da Carta de 88. De fato, o que se almeja é criar um mercado desregrado, livre para os ricos lucrarem ao custo do sofrimento dos mais fracos, como papagaiou Bolsonaro naquele fatídico dia 11 de junho de 2019: “quem deve conduzir o destino da nação são os senhores [...] O que temos obrigação de fazer? Não os atrapalhar, coisa muito comum há pouco tempo”[3]. Ele se referia aos governos Lula e Dilma.


As consequências dessa visão pré-política da sociedade puderam ser medidas, por exemplo, no relatório divulgado em 2021 pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que apontou o aumento das invasões de terra e de assassinatos de indígenas em meio à pandemia[4]. Os povos nativos ainda padecem porque a sua proteção implica restrição à exploração desimpedida do ambiente. Não é outro o motivo do desprezo com que foram tratados durante o governo da dupla Bolsonaro-Paulo Guedes.


Na verdade, o Brasil reencontrou, sob o bolsonarismo, o seu passado e o passado colonial da América, terra de onde as coisas saem para acumular fora. Esta é a tragédia que se tornou visível nos milhares de mortos pela pandemia e no desespero dos que lutavam pelos restos nos lixões das grandes metrópoles.


Um olhar retrospectivo, desde o discurso de posse do presidente tornado réu pela tentativa de golpe de Estado, passando pelas muitas manifestações de seus ministros, demonstra que a violência que vitimou os povos indígenas foi parte de um cálculo. Basta lembrar do ex-ministro Salles e sua sugestão de aproveitar que os olhares estavam postos na pandemia para “passar a boiada” na desregulamentação” de tudo quanto fosse possível[5].


Os indícios de genocídio contra os indígenas e de crime contra a humanidade no caso dos brasileiros privados de vacina e de informações corretas durante a pandemia da covid-19 abundam. E será por conta da tentativa de um golpe contra a democracia que Bolsonaro e alguns generais deverão ser condenados pela justiça brasileira. A vida humana, de fato, vale pouco.


Notas:


[1] “Temos que desconstruir muita coisa”, diz Bolsonaro sobre Brasil. In: Metópoles < https://www.metropoles.com/mundo/politica-int/temos-que-desconstruir-muita-coisa-diz-bolsonaro-sobre-brasil > Acesso em 23 de março de 2025.


[2] Conheça os empresários que apoiam Bolsonaro . In: Veja São Paulo < https://vejasp.abril.com.br/blog/terraco-paulistano/empresarios-bolsonaristas/ >. Acesso em 23 de março de 2025.


[3] Na Fiesp, Bolsonaro defende que governo não atrapalhe empresários. In: Agência Brasil < https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-06/bolsonaro-defende-que-governo-nao-atrapalhe-empresarios > . Acesso em 23 de março de 2025.


[4] Em meio à pandemia, invasões de terras e assassinatos de indígenas aumentaram em 2020. In Cimi < https://cimi.org.br/2021/10/relatorioviolencia2020/ > Acesso em 23 de março de 2025

 

[5] “Ministro do Meio Ambiente defende passar 'a boiada' e 'mudar' regras enquanto atenção da mídia está voltada para a Covid-19”. Matéria publicado pelo site globo.com. In <  https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/22/ministro-do-meio-ambiente-defende-passar-a-boiada-e-mudar-regramento-e-simplificar-normas.ghtml > Acesso em 23 de março de 2025.

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